Cartas sem remetente





Era um tempo que já não é o meu. Que lhe aconteceu? Longas páginas salpicadas pela tinta cansada, incapaz de interromper a necessidade de partilhar, acalmar o coração ou expressá-lo.

Hoje é tudo frenético, à distância de um 'clic' ou um toque (dos que são nada). Elas que diminuíam distâncias, quebravam angústias e, sempre guardadas num bolso perto do peito, alimentavam esperanças do reencontro. Parece que Cartas de Amor são foleiras. Maneira optimista de consolar quem nunca as teve. Eu não sou optimista por isso lamento o desábito. Lamento mas admito que não o contrario.
O mundo está mais pequeno. Já não há oceanos demasiado largos, continentes distantes, pontes intransponíveis. Os motivos podem até mudar, mas a essência de um bilhete escrito pela mão de quem se quer, um aroma que fica preso ao papel, memorizado no inconsciente, palavras que por mais repetidas no pensamento esboçam 'aquele' sorriso. O verdadeiro romantismo não é o lamechas, é o inspirador, o que eterniza um sentimento verdadeiro mesmo que ele chegue a tomar outras formas.

Que saudades do que não tivemos! Que medo! De viver imperceptível numa multidão que acredita que não se deve fazer ouvir, ou fá-lo de forma instantânea, social, irreflectida, sem privacidade. Porque nem tudo é para todos.


3 comentários:

  1. adorei! é tão verdade...

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  2. Gostei desta observação e concordo plenamente! Gosto da tua escrita!

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  3. isto está qualquer coisa..

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